É com muito prazer que hoje publicamos mais uma entrevista aqui no blog, desta vez à escritora portuguesa Carla Ribeiro, que publicou recentemente Senhores da Noite e também Pela Sombra Morrerão. Para quem não sabe, a Carla mantém também o blogue As Leituras do Corvo, onde coloca as opiniões sobre os livros que lê e outras novidades do mundo literário. O nosso muito obrigado à Carla pela disponibilidade e pelas respostas interessantes.
Estante de Livros - Como é que começou a paixão pela escrita? Houve algum momento em particular em que tivesses decidido que querias ser escritora?
Carla Ribeiro - Acho que sempre tive o bichinho da escrita, lembro-me de mim quando miúda e de como imaginava as histórias mais improváveis. Mas houve, de facto, um momento em que decidi que queria começar a levar a escrita de uma forma mais séria e foi quando, por volta dos meus catorze anos, descobri que os meus mundos e palavras paralelos podiam funcionar como um sonho e como uma espécie de refúgio, pelo menos para mim. Foi assim que descobri que escrever era uma coisa que queria fazer sempre.
E.L. - Consegues eleger um favorito entre os livros que escreveste até hoje?
C.R. - Não. São todos especiais à sua maneira. De uma forma mais ou menos evidente, há sempre uma ligação emocional entre os meus livros e eu ponho neles o melhor de mim. Acho que nunca poderia escolher um como favorito.
E.L. - Tens tido feedback do teu trabalho por parte dos leitores?
C.R. - Algum, sim. Recebo alguns comentários sobre os livros ou perguntas sobre a experiência de escrever e publicar. E é um resultado muito gratificante, por mais discreta que seja à reacção. Às vezes, um simples "gostei" é suficiente para animar o dia.
E.L. - Encontras-te a trabalhar actualmente em algum novo projecto (ou projectos) de que nos possas falar um pouco?
C.R. - Eu tenho sempre projectos novos, tenho algumas dificuldades em estar parada. Terminei em Janeiro a escrita de um novo romance, e estou agora a trabalhar na revisão. Continuo no género da fantasia, mas, numa experiência um pouco diferente do meu habitual, afastei os elementos mágicos e dediquei-me a contar a história de um príncipe exilado. Entretanto, tenho alguns projectos ainda em fase de organização de ideias e vou escrevendo alguns contos pelo caminho.
E.L. - O que achas da importância e das oportunidades que as editoras portuguesas têm dado aos novos valores nacionais? Tiveste dificuldades em arranjar editoras que aceitassem publicar o teu trabalho?
C.R. - Fico muito feliz quando vejo que as editoras começam a apostar em novos valores e que autores desconhecidos conseguem finalmente ver a sua obra publicada, porque conheço bastante bem as atribulações desse caminho. Tive algumas dificuldades em encontrar uma editora interessada no meu trabalho e não tanto por recusas - que também aconteceram e fazem parte do percurso - mas muitas vezes por total falta de respostas. Felizmente, nos últimos anos temos visto mais autores portugueses a chegar às livrarias e espero que isso continue a acontecer.
E.L. - Como autora de um blog dedicado a livros, qual a importância que atribuis à divulgação literária pela internet?
C.R. - Penso que é um excelente meio de fazer a informação chegar ao público, não só a partir dos autores, mas também ao nível da troca de opiniões entre os leitores. Já descobri livros muito bons que nem teria pensado em ler não fosse a opinião de alguém me ter despertado a atenção.
E.L. - Falando em ferramentas da Internet, e tal como eu, és presença assídua em fóruns, twitter, facebook... que vantagens e desvantagens poderias apontar a estes meios de comunicação?
C.R. - Bem, em termos de vantagens, a Internet em geral coloca-me em contacto com pessoas com quem dificilmente me cruzaria assiduamente no mundo real. Da minha experiência no twitter, nos fóruns e, em menor grau, no facebook, a grande vantagem é a oportunidade de conhecer pessoas novas e de trocar ideias com elas. E claro que também são óptimas ferramentas de divulgação. Quanto às desvantagens... Estando em contacto com todo o tipo de pessoas, é normal que, mais cedo ou mais tarde, se crie uma ou outra situação chata ou revoltante. Nessas alturas, é preciso aprender a respirar fundo e ter paciência.
E.L. - Para além da escrita, és uma leitora ávida. Qual o teu género literário preferido e que livro recomendarias dentro desse género?
C.R. - Eu faço os possíveis por ler um pouco de tudo, mas o meu género de eleição é, sem dúvida, a fantasia. Mas acho que não consigo recomendar só um por isso deixo como sugestões a Trilogia das Jóias Negras, da Anne Bishop, O Dardo de Kushiel, da Jacqueline Carey e as Crónicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin.
E.L. - Livros e escrita à parte, que outras paixões tens?
C.R. - Adoro animais, particularmente cães e, apesar de actualmente não ter nenhum animal de estimação, espero mudar essa situação no futuro. Tenho um grande fascínio por história medieval e mitologias, pelo que é uma coisa que não me canso de estudar, apesar de estar bastante deslocado da minha área. E depois há a música, que é, como os livros, algo sem o qual não poderia viver. Tenho alguns conhecimentos de violino e também canto - apesar de, nos últimos tempos, ser principalmente no duche.
E.L. - Para terminar, que conselhos darias a escritores portugueses que continuam a lutar para ver os seus trabalhos publicados?
C.R. - Nunca desistir. As recusas e a longa espera fazem parte do percurso e, por mais dolorosas que às vezes possam ser, também é com elas que se evolui. Ler muito, escrever muito, procurar dar um caminho próprio a cada história. Ser capaz de aceitar que a perfeição é inatingível e que temos sempre mais a aprender, mas fazer o máximo pelo melhor resultado. A estrada pode ser difícil, mas o essencial é acreditar no sonho e lutar para o conseguir.